sexta-feira, setembro 28, 2007

Pelo fim do directo da treta

O Boss do Renas propõe o fim dos directos idiotas ou da treta, como prefiro chamar-lhes.
Aplaudo a iniciativa embora ache que vai dar em nada porque aquela gente ainda não descobriu que a grande maioria dos potenciais espectadores anda por outras paragens que não os deles.
Pela minha parte, sempre que consigo deitar mão ao telecomando, é zapping até fartar assim que iniciam um dos seus intragáveis directos, acabando frequentemente a ver a BBC, a CNN ou até mesmo a Sky News ou a Al Jazeera. Tudo menos os noticiários portugueses.


Imaginem um livro de História onde em vez dos factos e das explicações necessárias à compreensão dum dado assunto estivesse tudo o que o historiador leu nas bibliotecas – era um historiador incompetente, não era?
Imagine-se agora que um advogado chega a tribunal e despeja em cima da bancada do juiz tudo o que de relevante e irrelevante tem sobre um processo – qualquer magistrado sentenciava de imediato a favor da outra parte, não era?
E o que faria o director de informação de qualquer um destes canais portugueses se fosse ao médico e este lhe atirasse para o colo com o simpósio terapêutico e lhe dissesse, «o seu padecimento está descrito algures entre a página 10 e a 1500. Procure-o!» – levaria, na volta, com o calhamaço nos cornos, não é?
Pois é o que a mim me apetece fazer sempre apanho com um directo irrelevante no meio dum noticiário.
Pago através da publicidade que me impigem e através das taxas e das rendas que me extorquem os serviços noticiosos das televisões portuguesas. Pago assim aos jornalistas para tratarem a informação diária de acordo com os bons critérios ensinados nas universidades, nos livros e aprendidos na boa prática da profissão. Não sou uma besta na manjedoura a comer a palha que incompetentes me atiram.
Não quero ser bombardeado a toda a hora com o jogo que vai acontecer. É ridículo, é atroz, ver um chouriço a dizer que acabou de chegar o autocarro da equipa de Alguidares-de-Cima ou que o Bushilson foi sujeito a uma sondagem rectal e por isso está em dúvida para o jogo dali a nove semanas e meia. Às vezes nem quero saber os resultados dos jogos, mas é quanto basta num noticiário feito por gente inteligente que respeita o seu público.
Também não tenho pachorra para ver em directo às 20 horas as conferências de imprensa que todos os palermas e associações de malfeitores organizam para evacuarem o ar podre onde medram.
Tenho também muita vergonha – e não sou eu que estou a fazer o papel de triste – pelos jornalistas que estando a falar um orador, se põem a dizer inanidades sobre o que o dito está a dizer enquanto fala; ou então dos que o não o interpelam sobre o que disse ou deixou de dizer, não fazendo as perguntas que deveriam ser feitas e que toda a gente está a fazer em casa.


Desgosta-me sobremaneira o servilismo dos jornalistas quando dão tempo de antena a um qualquer basbaque, mesmo que ministro ou dirigente partidário, sem que isso seja sujeito previamente a uma edição que dê ao espectador o relevante – e se nada houver não é notícia.
Acabando com os directos da treta e passando só o que de importante houver, acabariam as conferências de imprensa e os comunicados à hora do jantar; acabaria o tempo de antena gratuito e, quem sabe, sem bocas foleiras até o clima político melhorasse.

4 comentários:

Flávio Josefo disse...

O meu aplauso incondicional.

pat disse...

Hum... estás de mau humor!

Eu sei que é chato pagar por um mau serviço, mas lembra-te que o serviço é organizado para aumentar as audiências e tu fazes parte da minoria que não gosta de programação pimba... paciência!

MARIA disse...

Metralhinha, meu amigo...
Então o mau humor dá-lhe para pensar assim tão bem e para falar melhor ainda ? ...
Venha mais.
Um beijinho.
Maria

Metralhinha disse...

Flávio,
Aplaudes-me a mim ou ao jornalismo que temos?

Pat,
uso este blogue para descarregar a bílis...

Não sei se faço parte da minoria televisiva ou da maioria silenciosa ou ainda da minoria que estrebucha contra ela. Agora tenho muitas dúvidas que os aparelhos de medição das audiências se encontrem em residências como a minha – porque nunca o permitiria – logo este tipo de público não é caracterizável embora seja consumidor e, portanto, público-alvo da publicidade (que, obviamente também deveria ser diferente).

Maria,
Há muita coisa que se escreve num repente e esta é uma delas. Mas estas explosões são o resultado dum lento acumular de frustração e de, porque não, reflexão.