quinta-feira, setembro 20, 2007

Da Somália a Darfur

A magnífica banda sonora ali em baixo e o aviso da manifestação para alertar sobre o que se passa no Darfur – e que tão pouca gente reuniu – trazem-me à memória o optimismo que reinava no início da década de noventa, quando se pensava que uma nova e mais justa ordem internacional era possível. Reflectia-se então em voz alta que a soberania dos estados não se podia sobrepor aos direitos humanos dos seus cidadãos e que a comunidade internacional tinha o direito, senão mesmo o dever, de usar todos os meios, inclusivamente os militares, para impor o respeito pelos direitos humanos.
O sucesso alcançado na Segunda Guerra do Golfo, em que a comunidade internacional se uniu como nunca até aí na defesa do direito internacional e dos direitos humanos, coligando-se contra a invasão do Kuwait pelo Iraque, muito contribuiu para a ideia de que outros problemas no mundo se poderiam resolver com o empenho de todos. Dentro desse espírito as Nações Unidas destacaram uma força para a Somália – que como estado deixara de existir e se encontrava a saque por bandos armados enquanto a população definhava na mais profunda das misérias – força essa composta por poucos efectivos e com uma missão puramente humanitária mostrou-se ineficaz, o que levou a que poucos meses depois nova força fosse enviada com maior poder de intervenção. A espinha dorsal desta nova força é o exército americano, o qual chama a si a responsabilidade de capturar os cabecilhas dos bandos, mas com muito pouco sucesso e o fim desta é o narrado pelo filme Black Hawk Down.
O falhanço desta missão em todos os seus objectivos é o balde de água fria que põe termo à euforia que vinha desde a queda do muro de Berlim e da vitória sobre os iraquianos. As nações que verdadeiramente têm poder para pôr alguma ordem no mundo – as potências ocidentais – estão imersas em rivalidades mútuas; não têm vontade política para arriscar as vidas dos seus cidadãos nesse tipo de missões; têm interesses económicos avessos a gastos militares ou têm interesses (ou falta deles) nesses conflitos; são, ainda, sensíveis à possibilidade das suas intervenções serem tomadas por manifestações neo-coloniais ou, pior ainda, por paternalismo eurocêntrico. Por tudo isto, desde então procuraram não mostrar o músculo no que a assuntos do Terceiro Mundo dizem respeito. O resultado é então Bósnia, Burundi, Ruanda... Darfur.
Muitos pirómanos, demasiados fogos e poucos bombeiros.

1 comentário:

pat disse...

Às vezes penso que estou a congelar por dentro, olho e não sinto nada... porque somos tão crueis?!