sábado, setembro 24, 2005

Campanha Eleitoral 3

Nas próximas eleições autárquicas vários são os candidatos com processos judiciais de foro criminal acusados de crimes diversos. A lei concede-lhes a faculdade de se candidatarem, pois assim ninguém fica privado de poder dar o seu contributo à sociedade.
Sondagens de opinião (que não são o voto eleitoral) dão a esses candidatos grande probabilidade de serem eleitos.
Deduz-se (talvez mal) que:
1. os seus concidadãos os continuam a julgar aptos para o exercício de funções que visam o bem comum apesar desses candidatos serem legalmente suspeitos de acções lesivas do interesse comum de gravidade tal que são passíveis de pena de reclusão em estabelecimento especializado (vulgo: prisão);
2. os seus concidadãos sabem de forma inequívoca que esses candidatos são inocentes e, portanto, dignos de servirem - só que neste caso também era sua obrigação legal e moral terem-se apresentado aos seus concidadãos encarregues de processar a justiça para darem as provas necessárias e desse modo acabarem com os processos;
3. os seus concidadãos gostam de ser roubados pelos eleitos;
4. os seus concidadãos são, em todos os aspectos, pares dos candidatos e como tal dignos uns dos outros.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Bananas (comentário)

Este texto tinha-o posto como comentário ao que escrevi sob o título de bananas. Como não me apetece escrever algo de novo ponho-o aqui para parecer que me preocupo com as aparências.

O termo república das bananas vem disso mesmo: das bananas.
Nos anos 50 (1953) o governo da Guatemala expropriou a United Fruit Company, uma empresa americana dedicada ao cultivo desse fruto e que detinha imensa extensão de boa terra na América Central. As terras expropriadas foram distribuídas a camponeses sem terra. Escusado será dizer que esta insidiosa conspiração marxista teve a devida reacção do guardião da democracia. As pressões norte americanas, apoiadas pelas outras democracias centro e sul americanas, forçaram o governo guatemalteco a virar ainda mais à esquerda (cruzes canhoto, até a Igreja Católica interveio). Finalmente em 1954 uma revolta de exilados políticos patrocinada pelos Estados Unidos parte das Honduras (outro grande produtor de bananas para empresas dos EUA) e derruba o governo depois de bombardear por terra e ar várias cidades.
É o culminar dum processo que começara em 1952 com a reivindicação dos trabalhadores das plantações de melhores condições de trabalho e melhor repartição da riqueza que produziam – um pouco menos para os accionistas e um pouco mais para eles – um processo em que o governo teve o mau senso de intervir forçando a empresa a ceder.

A decisão da OMC vem possibilitar agora que as bananas da Guatemala e doutros locais semelhantes entrem na UE a preço mais baixo que as produzidas em países e regiões onde os trabalhadores das plantações ganham um pouco mais e têm uma vida um pouco mais digna. Isto poderá levar inclusivamente ao fim da produção de bananas na Madeira, Canárias e Martinica.

Ah!... o governo guatemalteco tinha sido democraticamente eleito e, de início, até governava de forma democrática.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Catedral de Santo António. Carta a Sua Eminência o Cardeal Patriarca

Eminência.

Sua Eminência o Cardeal Patriarca vosso antecessor achando que não tinha templos suficientes deu início ao processo de construção de mais um. Mas não um qualquer. Uma CATEDRAL, Uma NOVA SÉ!
A vetusta românica Sé Velha foi tida por obsoleta; São Vicente por decrépita. Além disso, a afluência aos serviços religiosos não pára de crescer, como demonstram as mais recentes estatísticas do Inimigo Público. Assim torna-se urgente um novo, maior, ostensivo e ofuscante imóvel. Algo que mostre como a Igreja Católica Portuguesa é influente, rica... em suma, poderosa.
Para demonstrar tudo isso, e quiçá mais, escolheu para orago Santo António de Pádua, que em Portugal é mais conhecido por de Lisboa e de quem todos os católicos conhecem o fabuloso milagre dos peixes e a mania de quebrar bilhas, mas do qual não conhecem uma linha do que escreveu e que por sinal lhe deu o título de doutor da Igreja.
Como Vossa Eminência sabe, Santo António, tal como o fundador da sua ordem, o venerável São Francisco de Assis, advogava as manifestações riqueza, de poder e o esbanjamento do dinheiro do povo crente em obras vãs – por isso dedicar-lhe a nova catedral é de todo merecido.
Desculpai-me esta pretensiosa lição de História Eclesiástica, sem dúvida impertinente, e tolere-me mais uns desconchavos.
Será que o vosso Patriarcado não tem igrejas suficientes?
Será que todas as vossas ovelhas aglomeradas nos subúrbios da Patriarcal estão servidas de igrejas e capelas?
Têm as vossas ovelhas pastores suficientes que as conduzam?
Ireis deixar cair o imenso património construído ao longo de séculos com o dinheiro do trabalho dos nossos antepassados?
Quereis emular o vosso irmão, o bispo emérito de Miranda e Bragança que deixou ao abandono a sóbria e sólida catedral gótica de Miranda em favor duma nova em Bragança e que nada a distingue dum qualquer centro comercial?
Ireis servir-vos dos mesmos métodos que ele para financiar a obra?
Necessitais de obras de cimento, ferro e vidro para que no futuro sejais recordado qual faraó que mandou construir a sua mastaba? Ou preferis ser recordado como o homem humilde que ensinou e praticou o Evangelho?
Espero que Vossa Eminência perdoe a minha ousadia por interrogar-vos sobre matéria que sem dúvida haveis muito bem pensada e sei que ireis agir com o mais puro sentimento cristão.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Poder local (e não só)

Paulo de Morais, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, não candidato às próximas autárquicas por pressões de Sabe-se Lá Quem (mas imagina-se), veio a público confirmar o que anteriormente afirmara acerca dos poderes reais mas ocultos que de facto governam o País.
Disse-o no Prós e Contras desta semana conduzido pela mesma gesticulante apresentadora de sempre que, como já se sabe, tem o hábito detestável de não deixar falar quem tem algo de relevante a dizer e, ao mesmo tempo, concluir com sentenças da sua lavra as declarações que outros começam mas que não lhes é permitido acabar.
Paulo de Morais, clarividente e consciente dos valores éticos que muitos proclamam (e só isso) como sendo republicanos, esteve desassombrado e sem subterfúgios, proclamando a quem o quis ouvir os vícios do actual sistema político que defrauda o Estado de Direito Democrático e a res publica.
Esteve muito bem acompanhado por Maria José Morgado que tipificou, como vem fazendo há muito, as condições que permitem ocorrer os desmandos que há e apresentou Paulo de Morais como alguém «que persegue o interesse público».
Da mesma opinião não foi Fernando Ruas que, além de confundir tipificação com acusação, é um dos poucos portugueses que não consegue ver algo de errado no que se passa pelo país fora a nível do poder local.
De facto, a arte de roubar pressupõe subtileza — daí não compreender.
A sua atitude chegou a roçar o cinismo.
Nogueira Leite, esteve na mesma sintonia de Paulo de Morais e Maria José Morgado, algo está podre no Reino, digo, na República Portuguesa.
Joaquim Ferreira do Amaral dá uma no cravo e outra na ferradura, é desta têmpera que se fazem os políticos ou os poderosos — e ele é as duas coisas.
Para a história ficam duas tiradas:
«Seria estranho que todos os portugueses soubessem [que há pressões sobre os políticos] e eu que ocupo um cargo público não» — Paulo de Morais.
«Ou andámos a eleger idiotas ou qualquer outra coisa se passa» — Nogueira Leite.

Bananas

OMC obriga a UE a acabar com protecção fiscal à banana [dos signatários da Convenção de Lomé].

A República das Bananas triunfou!
O crime compensa!
Viva o capitalismo!

terça-feira, setembro 13, 2005

Espelho, espelho meu ......

Existem actualmente no nosso país, quatro tipos de pessoas a quem eu decidi chamar:
Os 4 magnificos.
São eles:
Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém.

Havia um trabalho importante para fazer e Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém o faria.
Toda-a-Gentem podia fazê-lo, mas Ninguém o fez.
Alguém zangou-se porque era um trabalho para Qualquer-Um.
Toda-a-Gente pensou que Qualquer-Um podia tê-lo feito, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria.
No fim Toda-a-Gente culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer-Um poderia ter feito.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Jornalismo

A caminhante e gesticulante apresentadora do Prós e Contras da RTP 1 a dada altura do programa desta semana referiu a falta de atenção que os portugueses dão aos assuntos internacionais, mesmo àqueles que têm profundas repercussões no País.
Tomara! Com o jornalismo que se pratica nas redacções das nossas televisões; com as reportagens da treta e os directos de encher chouriço em que duas horas de noticiário cabem os assuntos relevantes?
Abençoado o engenheiro que inventou o telecomando para televisor!

quarta-feira, setembro 07, 2005

Maná

A auto-intitulada igreja Maná iniciou no dia 5 do corrente o seu congresso ou convenção ou o que seja que lhe chamem.
Está no seu direito. A Constituição da República garante a todos os portugueses a liberdade de acreditarem no que quiserem, inclusivamente nesta organização.
Mas a liberdade religiosa, indissociavelmente ligada à liberdade de expressão, não dá o direito a quem quer que seja de conspurcar o espaço público com cartazes desrespeitando com isso a liberdade dos outros ao usufruto de ruas limpas. A liberdade de uns termina onde começa a liberdade dos outros.
Mais valia que os auto-intitulados apóstolos dessa auto-intitulada igreja pregássem aos seus míopes seguidores o significado deste axioma.

E deixo para outra ocasião o comentário aos sucessivos ataques desta auto-intitulada igreja ao Estado de Direito — oxalá o Tribunal de Contas tivesse poder para verificar as contas dos apóstolos...