segunda-feira, julho 02, 2007

A propósito de António Balbino Caldeira



Gostaria de aconselhar uma obra que, tanto quanto sei, ainda não foi publicada em Portugal por uma editora portuguesa. Vá-se lá saber porquê, embora provavelmente até saiba!
Apesar de tudo, os portugueses encontram sempre forma de contornar o sistema e assim lêem a edição brasileira que rapidamente se esgota nas livrarias sempre que aparece. Trata-se de Michel Foucault, Vigiar e Punir e já vai, pelo menos, na 27.ª edição.
Foucault constatou há muito que o poder é sempre coercivo ao utilizar a força da punição para “normalizar” tudo o que se afaste do considerado aceitável. Esta atitude por parte do poder tem em vista a centralização desse mesmo poder e a subjugação da sociedade e dos indivíduos que domina. Nesta concepção, a Justiça é uma das “armas” do poder; um instrumento que castiga quem se afasta da normalidade.
Como sempre ocorre, existem outras teorias alternativas, sendo uma delas a de Hannah Arendt que defende o poder criativo para conseguir a reunião livre das vontades em vez da divisão e do confronto. Neste sistema, a palavra deve corresponder à prática e ter conteúdo. Para Arendt o poder coercivo de Foucault é violência.
Resumindo e concluindo, existem duas faces do poder: a de Foucault que pretende vigiar e punir, mesmo a opinião; e o poder criativo de Arendt em que a solidariedade e cooperação se baseiam em vontades e palavras com conteúdo. Em extremo, neste último caso, a palavra é em si criadora pois a partir dela desenvolvem-se as ideias. Mas as palavras por si só não criam, sendo necessário reunir vontades e solidariedades de forma efectiva.
Sob que tipo de poder queremos viver? No teorizado por Foucault, em que o poder é coercivo e que vigora (aparentemente) até ao presente, ou no postulado por Arendt?
No que a mim me toca prefiro claramente Arendt. Se optarmos por este último modelo, os cidadãos devem participar na vida política e os políticos que os representam devem reunir as vontades de todos, ou pelo menos da maior parte, para a construção e criação dum futuro melhor. E todos estes conceitos que referi devem querer dizer exactamente aquilo que vem no dicionário. Não podem nem devem ser chavões publicitários vazios de conteúdo e apenas ficam bem nos “outdoors”, como se diz agora.

10 comentários:

Ka_Ka disse...

Modula o rouxinol violino alado
as notas musicais da serenata
trovas de oiro e de rosas carmim
na alvura doce do luar coalhado…
Cantam em coro cigarras à desgarrada...
Fura o ralo o fino ar...negro cetim...
na estridência fina de um flautim
pelo trombone do sapo acompanhada...
Das profundezas místicas da mata
cai de uma fonte um harpejar sem fim…
Murmura ao longe a negra ramaria…
Das pedrinhas do rio são arrancadas
notas líquidas verde desmaiadas…
Soa em surdina, o vento em correria…

Metralhinha disse...

Kanoff,

Roubar com arte tem muito que se lhe diga; a imitação pode ser um elogio ao imitado, já o plágio é vergonhoso.
Deixo-lhe uma sugestão, apague o blogue e peça desculpa às vítimas que a blogosfera agradece.

Passar bem.

Anónimo disse...

Guerra de capoeira? Não entendi...

Metralhinha disse...

Anónimo,

Corta-Fitas

Anónimo disse...

Típico de uma nova geração que utiliza descaradamente o copy/paste como ferramenta de originalidade.
É que pensar e escrever pela sua cabeça dá muito trabalho...

Já agora o momento poético do artista foi copiado de http://a-papoila.blogspot.com/, ou talvez não...

pat disse...

Numa sociedade esclarecida, a filosofia de Arendt é sem dúvida a mais justa, mas nem sempre praticável. Tendo em conta a complexidade da nossa organização, enquanto espécie, há necessidade de hierarquias, de alguém que tome decisões, que mande e puna quando as regras não são cumpridas...O problema é quando quem ocupa esses cargos são pessoas medíocres e corruptas.

MCA disse...

Kanoff é um plagiador sistemático. Conheço vários dos blogues que plagia. Mas não é o único. Conheço mais da mesma laia.

Flávio Josefo disse...

Pat, todos os dias temos exemplos de como Arendt é exequível: quando nos juntamos e conseguimos construir algo, pode ser um par, um grupo, uma família, uma comunidade. Isso não quer dizer que as rivalidades, confrontos, hierarquias e punições não existam e por vezes sejam necessárias.
São duas faces da mesma realidade que continuo a preferir ver sob a perspectiva de Arendt, se calhar utopicamente.

Anónimo disse...

A despropósito você já leu mesmo, mesmo, mesmo, o Vigiar e Punir? "Poder coercivo"? Olhe tome lá estas passagens:

O discurso veicula e produz poder; reforça-o, mas também o mina, o expõe, o torna frágil e permite impedi-lo de avançar. Do mesmo modo, o silêncio e o segredo albergam o poder, fixam as suas interdições; mas também afrouxam as suas influências e proporcionam tolerâncias mais ou menos obscuras.

Utopia do pudor judiciário: tirar a vida evitando que o condenado sinta o mal, privar de todos os direitos sem fazer sofrer, impor penas isentas de dor. O emprego da farmacologia e de diversos “desligadores”, fisiológicos, ainda que provisório, corresponde perfeitamente ao sentido dessa penalidade “incorpórea”.

E de outro livro do mesmo Foucault:

Só se mascarar uma parte importante de si próprio é que o poder é tolerável.

É óbvio que Arendt e Foucault falam de uma mesma coisa, embora a Arendt esteja bastante mais datada no seu pensar.

Flávio Josefo disse...

Caro Sim e Não
Ainda bem que sou o único que tem o livro para enfeitar a prateleira.
Sim, de facto Foucault e Arendt falam da mesma coisa: o poder. Coercivo e punitivo dum lado; criador e unificador de outro.
Sim, concordo com Foucault quando diz que o poder tenta camuflar a sua capacidade coerciva (ou punitiva, como preferir) algo que Arendt chama de violência.
Não, não acho que neste aspecto Arendt seja datável. Noutras áreas sim.