sexta-feira, março 16, 2007

O que valem os portugueses? (2)

Ainda sobre os serviços de saúde.
Vim a saber que mais uma criança nasceu a caminho do hospital, na ambulâcia. Se por acaso houvesse complicações no parto, quem é que garantia as tais condições de segurança que levaram ao encerramento de maternidades?
Ultimamente a política tem sido fechar centros de saúde, maternidades e acabar com determinadas especialidades por não serem viáveis, mas logo a seguir surgem projectos de criação de serviços de saúde explorados por grupos particulares e em associação com as misericórdias locais, nomeadamente em Mirandela, Espinho, Cerveira, Mealhada e Vila do Conde.
Os grupos privados investem neste sector porque têm perspectivas de lucros ou são apenas bons samaritanos que querem auxiliar as populações carenciadas? Será que toda a população pode pagar cerca de 70 euros para ser atendido naquelas regiões? Então e o dinheiro dos nossos impostos destinado a estes serviços vai para onde?
Enfim, abriu-se a porta à possibilidade dos serviços médicos passarem a ser feitos por particulares, o que não tenho nada contra. Contudo, considero que há determinadas garantias que devem ser dadas pelo Estado, que sublinho somos todos nós e não devia ser uma(s) entidade(s) qualquer/quaisquer que nos anda(m) a sugar o tutano.
Num país civilizado as pessoas pagam os seus impostos e vêem o seu dinheiro aplicado no que se considera ser o bem comum. O bem comum passa pela saúde e formação das pessoas. Para que queremos um Estado se não nos pode garantir essas condições mínimas? É preferível pagar a dezenas de milhar de assessores, secretárias, motoristas, carros, viagens, tudo gente que apenas pensa no seu bem-estar? Ou o Estado deve ser altruísta e garantir que TODOS os cidadãos nasçam, cresçam e se formem como cidadãos responsáveis em condições de segurança e com saúde?
Será que vamos optar pelo sistema americano em que cada um tem de ter seguro de saúde e, se por qualquer eventualidade (desemprego, precariedade do posto de trabalho, doença prolongada ou doença que não seja coberta pelo seu seguro...), não se tem seguro sujeita-se a ficar na estrada porque ninguém o irá tratar. É o tal sistema do utilizador pagador que só funciona se todos tivermos rendimentos estáveis, o que na sociedade de hoje é quase impossível.

Se enveredarmos por este caminho ele desemboca no individualismo puro e egoísta em que cada um cuida de si e desenrasca-se sozinho. A mentalidade é a do imediato e do vencer a qualquer custo. Será isso que queremos para nós próprios e para os nossos filhos? Pensar somente em nós, menosprezando todos aqueles que nos rodeiam e os que vierem depois de nós. Primeiro eu, depois eu e depois ainda eu, os outros não contam para nada, são mera paisagem.
Que era feito de nós se os nossos antepassados pensassem desta forma? E que diriam aqueles que lutaram durante séculos para que todos pudessem usufruir de cuidados médicos? Porque será que os cuidados de higiene e de saúde vêm descritos no Pentateuco, mais precisamente em Números e Deuteronómio? Não será porque desde muito cedo o Homem teve a noção de que deve zelar da melhor forma possível tanto pelo seu bem-estar físico como o dos restantes membros da comunidade?


1 comentário:

Anónimo disse...

Realmente em termos de saúde vamos de mal a pior...será mais uma vertente do nosso destino?