terça-feira, fevereiro 19, 2008

O Fado


Gostaria de não ter de escrever isto, mas nós somos mesmo estúpidos e os nossos políticos ganham a todos em estupidez, pois julgando estar a engrossar o seu pé-de-meia criam uma sociedade de péssima qualidade de vida, o que se repercute na própria imagem da classe política. Temos uma sociedade de desempregados, de empresários chico-espertos e com uma elite sequiosa de poder, mas não temos o básico: condições de vida dignas. E não estou a falar de ambientes para “inglês ver”; estou a falar das pessoas viverem mesmo bem, com casas, passeios, estradas, jardins, matas, florestas, espaços desportivos… em boas condições de utilização.
Toda a gente sabe que não se deve construir casas junto aos rios por serem áreas alagáveis. E que fazemos? Vamos lá construir belos lotes de moradias para a massa de pessoas que não tem outra solução senão ir viver para os subúrbios, pagam-se umas alcavalas aos nossos queridos políticos e clientelas e lá vamos seguindo a nossa vida.
Ninguém tenta travar o que quer que seja. Quais PDM, quais regras ecológicas, o que interessa é fazermos obras para mostrar que estamos a evoluir e a progredir. Engrossa-se o PIB, enriquecem-se os municípios com as taxas e licenças de construção, aumenta-se o número de eleitores e de trabalhadores. Se eles morrerem ou ficarem sem habitação isso é lá com eles. Responsabilidade? Vivemos no país onde a culpa morre sempre solteira.
Betão, cimento, alcatrão isole-se tudo para as águas escorrerem melhor. Este é um país de obras, de urbanizações-cogumelo, de condomínios fechados, de loteamentos com nomes bucólicos e campestres no meio do que de mais negativo tem o urbanismo citadino.
Mas, depois de andarmos a tentar enganar a Natureza ela de vez em quando faz-nos sentir quem é a verdadeira dona do espaço.
E o povo fica pasmado com a força das águas do rio ou da ribeira que todos queríamos encanar, porque ficam mais bonitos; porque não se vêem as correntes de esgotos que realmente são.
E o povo fica pasmado porque a água arrasta terra, pedregulhos e tudo o que está à frente, porque já não existe nada que segure os solos, pois as árvores são para cortar e queimar.
E os políticos mandam reunir mais uns gabinetes de estudo para saber o que toda a gente sabe: NÃO SE PODE CONSTRUIR NAS ÁREAS DE CHEIA E AS FLORESTAS SÃO PARA PRESERVAR.
E mais uns milhões são gastos em estudos completamente desnecessários e em tentativas para solucionar um problema velho como o raio.
Desculpem-me mas exasperam-me os milhões de prejuízos de pessoas muitas vezes carenciadas, as vidas perdidas e a nossa mania que é tudo um fado e que não podemos fazer nada em contrário.
Podemos fazer, podemos exigir e podemos reclamar. Na pior das hipóteses podemos sempre emigrar.

2 comentários:

pat disse...

Acho que emigrar não é a solução. Quanto mais viajo mais gosto de Portugal... problemas há em todo lado.

Portugal não é um país perfeito, mas podia ser maravilhoso se houvesse mais cuidado e seriedade.

Flávio Josefo disse...

Cara Pat
Emigrar nunca foi a solução, mas quando as pessoas têm a sensação que pouco ou nada podem alterar, o melhor é mudar de ares.
As pessoas esforçam-se a trabalhar, pagam os seus impostos, são cidadãos na boa acepção da palavra e o que têm em contrapartida?
Estradas esburacadas, passeios (quando existem)com carros, espaços verdes wc caninos... podia continuar. Onde está a ordenação do que quer que seja? Onde estão os serviços de limpeza? onde se aplica o PDM? Onde se protege as áreas de floresta protegida?
Quem reclama é simplesmente marginalizado e rotulado. O que se pode fazer para inverter isto? Volto a dizer, no pior das hipóteses vai para onde acha que essas condições lhe são garantidas.