Quem não conhece casais que têm uma vida relativamente boa e quando existe uma gravidez, ela é rapidamente despachada para casa com um subsídio da Segurança Social, se tiver sorte?
Quem está disposto a abdicar da sua carreira e do seu trabalho, que também lhe garante o sustento, para ter filhos? Ser mãe ou pai deve ser um sacrifício pessoal e financeiro ou deve ser antes o glorificar da vida e da vida familiar?
Obviamente que muitos casais podem passar por um sacrifício, mas para a maioria isso é massacrar a família. O que deveria ser uma felicidade torna-se num pesadelo quando não há dinheiro para o leite, para roupa e se tem de recorrer a toda a família, aos amigos, vizinhos e instituições de caridade para mitigar as dificuldades. Uns dão as roupas dos primos, os sapatos do vizinho, a cama do conhecido…
Mas a vida duma criança não é apenas garantida pela satisfação das necessidades fisiológicas. Quando crescer os seus pais querem que tenha uma boa educação, uma boa saúde e acima de tudo que seja feliz. Para isso é necessário… dinheiro. E para que os pais o tenham é necessário que estes tenham um trabalho regular dignamente remunerado.
Contudo, hoje não há trabalhos remunerados regulares. A vida vive-se no fio da navalha. Ganha-se durante uns meses e é necessário poupar para os meses em que não haverá rendimento. As despesas, essas não desaparecem.
As crianças dos nossos subúrbios crescem sem estarem em contacto com os seus progenitores, pois estes têm de se desenvencilhar com dois ou mais trabalhos para fazer frente às necessidades da família. Muitos saem de casa às seis da manhã para chegarem às oito ou nove da noite a casa. Que tempo têm eles para dedicar aos seus rebentos?
As crianças frequentam escolas superlotadas dominadas por gangs enquanto os professores são vistos como parte da paisagem (pelo menos os mais afortunados). A função das escolas tende a ser vista cada vez mais como um depósito para ocupação dos jovens em vez terem a sua primordial e essencial função que é (para quem não sabe) ensinar e preparar os jovens para a vida.
Quando uma criança adoece não tem médico de família, os centros de saúde estão cheios e há que recorrer ao hospital onde se gasta, pelo menos, um dia à espera de ser atendido – mas é evidente que com uns meros 75 euros o médico privado também é uma solução, ao mesmo tempo que lá se vai o dinheiro reservado para o pagamento do gás e electricidade.
As exigências da vida actual aos indivíduos e as dificuldades postas às famílias conduzem obviamente à limitação de nascimentos. Não, não é egoísmo das pessoas ou dos portugueses em geral. É ser realista. É querer dar aos filhos, no mínimo, o mesmo que se recebeu quando se era criança. É ter disponibilidade para os acompanhar e ajudar a formarem-se como pessoas. Quando existem condições sociais, de emprego, de estabilidade económica e financeira, de manutenção das aspirações das pessoas nas carreiras, os filhos surgem. Veja-se os casais de emigrantes portugueses em França ou na Suíça.
Não são os incentivos monetários, como se faz na Alemanha, que levam os casais a ter mais filhos. As mulheres hoje querem ter filhos sim, mas também querem estar integradas na sociedade e nos seus trabalhos e carreiras profissionais. Quando se dá um subsídio para a mulher ficar em casa para ter filhos isso é limitar-lhe a sua capacidade como cidadã e como pessoa. As mulheres são mais do que meras parideiras, já provaram e continuam a provar isso. É patética toda a pressão para que as mulheres voltem à “esfera do lar” pois essa configuração social já não faz sentido, pelo menos para a esmagadora maioria das mulheres (que representam cerca de 50% da população portuguesa). E não nos devemos esquecer que essa foi uma das conquistas do século XX em Portugal e as mulheres não vão abdicar dela.
Como nascerão mais portugueses? Cada um sabe o que pode e deve fazer.
6 comentários:
Excelente Post!
Parabéns!
Sim, de facto, o que escreves é a realidade para a maior parte dos portugueses.
Por outro lado, ter filhos pode ter deixado de ser o objectivo principal das mulheres... pelo menos o meu não é!! Nem consigo perceber, muito bem, porquê algumas mulheres (casais) querem ter filhos.
Olá Flávio,
Recordava-me perfeitamente que a sua escrita e o seu pensamento eram sempre de excepção, mas já não me lembrava que fosse tão extraordinária. Eu penso nunca ter lido uma reflexão tão completa e equilibrada sobre este tema, escrito e pensado de modo mesmo excepcional. Muitos parabéns. Ter-se-ia inspirado no bebé que aparece na imagem e que tal qual a cereja no topo... é uma ternurinha muito, muito doce .
Um bj
Maria
Estas são realmente as verdadeiras causas do problema. Parabéns ao autor do post. E já agora não esquecer que existem cerca de 15.000 casais (se bem percebi no "Prós e Contras) que querem ter filhos e não conseguem, sendo que o Estado (e muito bem) comparticipa a contracepção a 100% e (menos bem) não comparticipa na mesma percentagem o tratamento para a infertilidade.
Observadora
Obrigado, volte sempre.
Pat
Cada um opta por aquilo que quer e pode. O problema é que a maioria das pessoas queria ter mais dum filho e não o tem porque não tem possibilidades. Depois fala-se da diminuição demográfica e dos problemas daí decorrentes para a sociedade e economia...
Maria
Um bebé é sempre uma inspiração.
Blogador
Tem toda a razão. Conheço um casal que gastou rios de dinheiro em tratamentos. Está inscrito há anos para adoptar e continua à espera. É uma injustiça atroz.
Problema, mesmo problema, é um planeta superpovoado e uma sociedade egoísta que pensa na procriação como um modo de viabilizar um sistema de segurança social falido sobre as ordens das seguradoras!
Um abraço contraceptivo
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