terça-feira, novembro 07, 2006

O Aborto ou Interrupção Voluntária da Gravidez e a Defesa da Vida

Uma das questões mais fraccionárias da vida portuguesa relaciona-se com a aceitação ou não da prática do aborto e sua criminalização.
Há uns anos atrás a maioria dos portugueses preferiu ir à praia em vez de ir votar no referendo porque segundo as estatísticas a maioria esmagadora era o sim. Confiou-se nas estatísticas e hoje as mulheres estão a ser levadas a tribunal e condenadas pela prática do aborto. Para além disso, os médicos e enfermeiros são instigados à denuncia em determinados estabelecimentos hospitalares dando continuidade à velha mentalidade inquisitorial e pidesca.
Primeiro há que tomar como ponto de partida que:
Ninguém no seu perfeito juízo faz um aborto porque lhe apetece ou porque isso pode ser um método anti-conceptivo (ao contrário do que algumas mentes provavelmente do século XIX possam pensar).
Ninguém será obrigado a fazer um aborto.
Nenhum médico ou enfermeiro é ou será obrigado a fazer abortos caso a nova lei seja aprovada.

Agora tomemos a realidade portuguesa: Que condições são dadas às mulheres para terem filhos?
Muitas mulheres são despedidas assim que ficam grávidas.
Um ordenado é insuficiente para manter uma família.
Raros são os infantários para as crianças com idades anteriores aos 2 anos.
Os homens ou rapazes muitas vezes não querem compromissos.
Os casais antes de terem filhos tiveram de se endividar para terem um tecto, pelo menos.
Os casais não podem dispensar um ordenado quando as despesas aumentam.

Que condições há para acolher mulheres solteiras e os filhos indesejados?
Poucas mulheres podem ir para instituições que lhes dão apoio nos primeiros meses, mas rapidamente são deixadas à sua sorte.
As crianças podem ir para instituições do estado ou privadas como a Casa Pia e outras onde esperam infinitamente para serem adoptadas.
As crianças ficam à mercê de mentes perversas engrossando os inadaptados.
Quando integradas nas famílias, geralmente das mães, as crianças não beneficiam duma família calorosa pois representam mais uma boca a alimentar que não se sabe o que fazer.
Os casos de maus tratos das crianças indesejadas são uma enorme possibilidade.

Perante esta realidade como se pode condenar alguém que opte por praticar um aborto? Será preferível colocar mais uma criança no mundo?
Os defensores da vida dizem que sim, mas eu ainda não os vi adoptarem as crianças que precisam de família e estão encafuadas nas instituições. Quantas famílias com posses defensoras da vida resolveram dar a mesma oportunidade dos seus filhos a uma qualquer criança das instituições de apoio a crianças desprotegidas? Provavelmente se todas as famílias defensoras da vida adoptassem uma criança a Casa Pia e outras tais estavam vazias. Não seria bom? Por mim pode-se começar já hoje a adopção.
Bom, uma coisa são os seus filhos, outra completamente diferente são os filhos dos outros que têm direito a viver, mesmo que seja na mais profunda miséria (económica e/ou humana). Viver condignamente é um privilégio seu, claro! Ou não seria isso uma característica sua e elitista.

1 comentário:

Anónimo disse...

Assunto com "pano para mangas".
Abraço
"ABUSUS"