segunda-feira, novembro 03, 2008

Depois da bebedeira a ressaca...

... e esta pode durar séculos.

Quem possuir as inscrições de 100$000 réis n.os 10299 a 10302, e de 500$000 réis n.o 5848 está ainda recebendo uma parte da tença de juro de 400$000 réis anuais concedida a D. Vasco da Gama, pelo padrão com data de 20 de Fevereiro de 1504, e não é este o padrão mais antigo que tem descendência legítima na actual dívida pública.*
(PORTUGAL. JUNTA DO CRÉDITO PÚBLICO, Collecção de Leis da Divida Publica Portugueza, 1.ª parte, Dívida Interna, Lisboa, Imprensa Nacional, 1883, p. 13).
Há boas e más dívidas.
Pedir um empréstimo para investir num qualquer negócio é bom, tal como também é bom pedir emprestado para comprar uma casa quando se quer constituir uma família. Tudo correndo bem, a médio ou longo prazo tem-se um bom rendimento; garante-se um capital para a descendência ou tem-se um aforro para tempos difíceis. Já o recurso ao crédito para ir gozar umas férias – desculpe-me quem o faz – é uma idiotice completa.
A ressaca que estamos a iniciar vai durar muito tempo. Aliás, bem vistas as coisas, estamos a ressacar desde pouco depois do regresso de Vasco da Gama da Índia. Vivemos ao longo dos séculos à custa de muito crédito e de pouco investimento. Quando temos dinheiro esbanjamo-lo em faz-de-conta-que-somos-os-maiores; quando já não o temos valha-nos-a-virgem-maria-é-a-crise-internacional e de bebedeira em ressaca cá vamos nós – contra toda a lógica – sobrevivendo, uns muito melhor do que outros, mas enfim, é a lei da natureza.
Vem isto a propósito de o País ter de novamente se endividar para garantir a nossa banca. É mais uma bebedeira para os vindouros pagarem ou, para variar, temos finalmente um investimento?

* Constou-me que há poucos anos ainda se contabilizavam no Banco de Portugal juros de empréstimos contraídos pelo Marquês de Pombal.

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