quinta-feira, novembro 17, 2005

Praia Particular

O sonho de qualquer nababo é ter a sua praia privativa; também o é o de qualquer pato bravo. Poder desfrutar exclusivamente de algo que é de todos, mais do que um sinal de egoísmo, é mesquinhez abjecta.
Vem isto a propósito duma notícia publicada no Correio da Manhã de 16-11-2005, onde se mostrava que o conhecido dono de fábrica de cerveja, negociante de águas, ex-dirigente desportivo, etc., Sousa Sintra, quer vedar o acesso a uma praia, o que na prática faria dela uma propriedade privada.
As praias, arribas, dunas, enfim, toda uma extensão de terreno litoral é do domínio público – pertence a todos – e, por isso mesmo, se designa por domínio público marítimo, ninguém pode fazer uso privado dele, principalmente quando disso resulta prejuízo para todos.
Não é o primeiro, nem será o último, a tentar apropriar-se ilegalmente dum bem que não lhe pertence – acto a que se chama roubo, furto, esbulho, gatunice!
Estes betonadores de tudo quanto vale alguma coisa neste país em termos paisagísticos, arquitectónicos e ecológicos, são como fungos: surgem do nada cobrindo rapidamente tudo o que é saudável; são como gafanhotos: depois de engolirem tudo o que há para comer mudam para outras paragens para provocarem a mesma destruição.
Contra isto um grupo de cidadãos reagiu e lançou um abaixo assinado, numa tentativa de impedirem algo com que nem se deveriam preocupar, fosse isto um verdadeiro estado de direito. É louvável – ainda há quem se preocupe e tente reagir – mas mais valia atacarem onde dói a estes parasitas: na carteira. Deviam promover uma campanha de boicote aos produtos e serviços que esta gente vende, e aí íamos ver como se portariam.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Clientelismo Partidário? Não!...

Clientelismo Partidário?
Não!...
A Fundação Mário Soares recebeu vinte mil euros do Ministério da Defesa para efectuar um estudo qualquer sobre o envolvimento de missões militares portuguesas no estrangeiro.
Julgava eu que uma fundação se destinava a aplicar dinheiro dum mecenas em obras de caridade, científicas ou artísticas.
Afinal não se trata de nada disso.
Primeiro cria-se uma fundação depois arranja-se quem a financie; de preferência o povo português que, por sinal, não é tido nem achado no que fazem com o seu dinheiro.
Existe uma instituição do Estado com a missão de financiar projectos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico: a FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia (bem, o nome podia ser melhor, já que também nela o dinheiro é público e que se saiba não gere património que lhe possibilite auto-financiar-se, mas enfim).
Esta instituição, muito louvável mercê do ministro que a tutela, acaba por recusar o financiamento da maioria dos projectos que pretendem o seu auxílio, quer pelo rigor científico que exige, quer pela exiguidade financeira que atinge todos os organismos públicos de verdadeira utilidade nacional. Mas ainda assim vai financiando a pouca ciência que por cá se faz.
Se o projecto que o Ministério da Defesa comissionou à FMS é de verdadeira utilidade nacional deveria ser levado a cabo por alguns dos muitos generais, coronéis e afins que andam pelas chafaricas a coçar a micose e não a civis sem autorizações de segurança e com afinidades claramente partidárias ou, pior, pessoais.
Se tal projecto é de verdadeiro interesse estratégico nacional mas não merecedor de autorização de segurança, então deveria ser financiado pela FCT como o são todos os projectos científicos que recorrem a financiamento público, concorrendo com eles em pé de igualdade e pelo seu mérito.